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Rodrigo Raffa

Dia da Bandeira: a imagem do cruzeiro resplandece

No dia 19 de novembro, celebramos o Dia da Bandeira, um símbolo que representa a identidade e a história do Brasil. Mas, além de seus elementos terrestres — como o verde das matas, o amarelo das riquezas minerais e o branco da paz —, a bandeira brasileira carrega algo singular: um fragmento do céu estrelado.


Elementos astronômicos são frequentemente encontrados em bandeiras nacionais ou estaduais, mas a bandeira do Brasil se destaca como a única bandeira nacional a incluir representações de 9 constelações diferentes: Virgem, Hydra Fêmea, Cão Maior, Cão Menor, Carina, Cruzeiro do Sul, Escorpião, Triângulo Austral e Octante.

Cada estrela possui um significado, alinhando-se com estados da federação e o Distrito Federal, compondo um mapa celeste simbólico. Na imagem a seguir conseguimos identificar o nome da estrela, sua constelação e o estado que ela representa.


estrelas na bandeira brasileira
Representação das estrelas da bandeira brasileira com seus respectivos estados correspondentes. Créditos: Wikipédia

O Significado das Estrelas na Bandeira


O círculo azul no centro da bandeira retrata um céu visto do Rio de Janeiro às 8h30 do dia 15 de novembro de 1889, momento da proclamação da República. Ao contrário do que pode parecer, ele não mostra as estrelas como seriam vistas a olho nu, mas sim um mapa astronômico invertido, como se o céu fosse projetado em uma esfera externa à Terra, uma prática comum em cartografia astronômica.


A imagem a seguir simulada no software Stellarium ilustra o céu real do Rio de Janeiro no dia 15 de novembro de 1889 às 08h30.


céu com constelações
O céu do Rio de Janeiro no dia 15 de novembro de 1889 às 08h30. Créditos: Rodrigo Raffa/Stellarium

Cada estrela representa um estado brasileiro, e a constelação que ela integra reflete características simbólicas do país. Por exemplo:


  • Cruzeiro do Sul (Crux): Composta pelas estrelas mais brilhantes da bandeira, representa o Distrito Federal e a identidade nacional.

  • Canopus (Carina): A segunda estrela mais brilhante do céu e símbolo do estado de Goiás.

  • Spica (Virgo): Representando o estado de Pará, a estrela que aparece isolada acima da faixa branca simboliza sua posição geográfica ao norte.


Curiosidades Astronômicas da Bandeira Brasileira


  1. Um Céu Completo do Hemisfério SulA bandeira inclui estrelas de várias constelações observáveis no céu austral, como o Cruzeiro do Sul, Cão Maior, Carina, Hidra e Triângulo Austral. Ao todo, são 27 estrelas, número correspondente aos estados brasileiros na época em que a bandeira foi oficializada.

  2. Canopus: A estrela Canopus, uma das mais importantes na bandeira, é a segunda mais brilhante do céu noturno, superada apenas por Sírius. Localizada na constelação de Carina, Canopus é frequentemente usada para navegação espacial por sua luminosidade e estabilidade.

  3. Spica: Spica, pertencente à constelação de Virgem, chama atenção por estar sozinha acima da faixa branca. Sua posição simboliza o estado do Pará, único a ficar ao norte da linha do Equador.

  4. Posicionamento Invertido: A inversão do céu na bandeira, com o Cruzeiro do Sul apontando na direção oposta à observada na realidade, pode confundir os mais atentos. Isso se deve à perspectiva de "projeção externa", típica de representações cartográficas.


O Céu da Bandeira no Dia da Bandeira


Se quisermos encontrar o "céu da bandeira" no céu real, podemos observar constelações como o Cruzeiro do Sul e o Cão Maior em uma noite clara, especialmente durante os meses de verão. No entanto, a configuração específica das estrelas mostrada na bandeira é fixa e não corresponde a um momento facilmente visível no céu atual.


Desde a criação da bandeira republicana em 1889, o número e o simbolismo das estrelas presentes nela passaram por alterações devido à formação de novos estados. Originalmente, a bandeira contava com 21 estrelas. Uma curiosidade é que a estrela Alfa da constelação de Hidra, que representava o antigo estado da Guanabara, passou a simbolizar o Mato Grosso do Sul após a criação deste estado em 1979.


Outra peculiaridade está na estrela isolada acima do lema "Ordem e Progresso". Ela representa o estado do Pará, que, na época da Proclamação da República, possuía a capital mais ao norte do Brasil: Belém. Hoje, com a criação de Roraima, o título de capital mais setentrional pertence a Boa Vista, a única capital brasileira localizada no hemisfério norte. Enquanto Spica (Alfa de Virgem) representa o Pará, o estado de Roraima é simbolizado por Wezen (Delta do Cão Maior).


No entanto, o rigor astronômico passou longe na elaboração da bandeira.


Primeiro, há a escolha de representar o céu diurno com estrelas que não são visíveis durante o dia. A explicação mais aceita é que a proclamação da República ocorreu por volta desse horário, embora os relatos sobre o momento exato sejam imprecisos. Há registros de que Deodoro da Fonseca proclamou a República ainda de madrugada e, posteriormente, retornou à sua residência. Outra hipótese sugere que a decisão foi puramente estética: nesse horário, o Cruzeiro do Sul aparece na posição vertical, favorecendo o destaque desejado pelos republicanos que idealizaram a bandeira.


A estética, aliás, também influenciou o tamanho das constelações. Para que o Cruzeiro do Sul ocupasse uma posição central e com maior destaque, constelações como Escorpião precisaram ser drasticamente reduzidas. Esse "encolhimento" comprometeu a fidelidade da constelação, que é famosa por sua semelhança com um escorpião real. Na bandeira, sua forma original foi tão alterada que se tornou quase irreconhecível.


Apesar dessas inconsistências, a bandeira do Brasil permanece um símbolo icônico, unindo ciência, história e um toque de arte, mesmo que, astronômica e historicamente, ela nos desafie a olhar para os céus com um olhar mais crítico e curioso.



Referências



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